Frequência das enchentes do rio Amazonas aumenta cinco vezes em 100 anos

Foto: Internet

Por meio de um estudo recente, com um registro de mais de cem anos dos níveis do rio Amazonas, foi indicado um aumento significativo na frequência e magnitude das enchentes nos últimos 30 anos comparado aos primeiros 70 anos da série temporal. A análise realizada por cientistas sobre as potenciais causas do aumento pode influenciar para previsões mais precisas de inundações na bacia Amazônica, a maior hidrobacia do mundo com quase 20% da água doce.

O estudo Intensificação recente dos extremos de inundação da Amazônia impulsionada pela circulação reforçada de Walker foi publicado nesta quarta-feira (19) na revista Science Advances pelos pesquisadores:

  • Jonathan Barichivich (Universidade Austral de Chile);
  • Manuel Gloor (Escola de Geografia da Universidade de Leeds – Reino Unido);
  • Philippe Peylin (Escola de Geografia da Universidade de Leeds – Reino Unido – França);
  • Roel J. W. Brienen (Escola de Geografia da Universidade de Leeds – Reino Unido);
  • Jochen Schöngart (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia);
  • Jhan Carlo Espinoza (Instituto Geofísico del Perú);
  • Kanhu C. Pattnayak (Escola de Geografia da Universidade de Leeds – Reino Unido).

Registros diários dos níveis de água do rio Amazonas são realizados no Porto de Manaus desde o início do século passado. O grupo de estudo analisou 113 anos de registros dos níveis de água, que revelaram um aumento na frequência de cheias e secas severas nas últimas duas a três décadas.

Os resultados demonstraram que houve, na primeira parte do século 20, cheias severas com níveis de água que ultrapassaram 29 metros (valor de referência para acionar o estado de emergência na cidade de Manaus) aproximadamente a cada 20 anos. Atualmente, cheias extremas ocorrem na média a cada quatro anos.

As mudanças no ciclo hidrológico da bacia Amazônica têm sido graves, com consequências para o bem-estar das populações no Brasil, Peru e outros países amazônicos.

Para o pesquisador e integrante do Grupo de Pesquisa do Inpa Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (MAUA), Dr. Jochen Schöngart, a ciência deve fazer uso desse conhecimento atualizado para aperfeiçoar modelos existentes de previsão de cheias na Amazônia Central e servir de subsídio para os tomadores de decisão elaborar políticas públicas, já que terão previsões mais robustas e com certa antecedência.

“Isso permite preparar as populações em áreas urbanas e nas regiões rurais para enfrentar consequências de cheias severas que sempre impactam a qualidade de vida dessas populações”, destaca Schöngart.

“As pessoas perdem moradia, sofrem várias doenças, serviços básicos como água potável ficam restritos e a pecuária e agricultura são bastante reduzidas nas várzeas resultando em enormes prejuízos econômicos e sociais para essa parte da sociedade”, completa.

De acordo com o Dr. Jonathan Barichivich, da Universidade Austral do Chile e ex-bolsista de pesquisa da Universidade de Leeds (Reino Unido), o aumento de secas severas na Amazônia tem recebido bastante atenção dos pesquisadores. “Entretanto, o que realmente se destaca no registro ao longo prazo é o aumento da frequência e magnitude das inundações. Cheias extremas na bacia Amazônica têm ocorrido todos os anos, desde 2009 até 2015, com raras exceções”, disse.

Conforme o estudo, o aumento do número de enchentes está relacionado à intensificação da circulação de Walker, um sistema de circulação do ar movido pelo oceano originado pelas diferenças de temperatura e pressão atmosférica sobre os oceanos tropicais. Esse sistema influencia padrões climáticos e pluviométricos em toda a região dos trópicos e além.

Mudanças nos oceanos

De acordo com o professor coautor Manuel Gloor, da Escola de Geografia da Universidade de Leeds, esse aumento dramático nas enchentes é causado por mudanças nos oceanos vizinhos, particularmente os oceanos Pacífico e Atlântico e como eles interagem. Ainda segundo Gloor, devido ao forte aquecimento do Oceano Atlântico e ao resfriamento do Pacífico no mesmo período, observou-se mudanças na chamada circulação de Walker afetando a precipitação na Amazônia.

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