Primeira mulher indígena eleita deputada federal fala dos desafios de ser a voz do seu povo

Podia ser qualquer mulher: eu, você, a sua amiga ou uma conhecida. Mas não é. Joenia Batista de Carvalho, 45 anos, do partido Rede, leva nos ombros o título único de ter sido a primeira deputada federal indígena eleita no Brasil. Foram mais de 8 mil votos na última eleição.
Não é a eleição, mas sua vida cheia de improbabilidades, que ela vem derrubando uma a uma, que a faz ser admirável. Mulher, indígena, nascida no extremo Norte do Brasil, em um Estado cheio de desafios econômicos, vingou e agora ela tem assento no Congresso Nacional.
De etnia wapixana – que habita a região demarcada São Marcosa, em Roraima – Joenia já avisou que se depender da vontade indígena e da sua voz firme, mesmo que em minoria na Câmara Federal, “não vão acontecer arrendamentos de terras indígenas para projetos de agronegócios. Queremos que o governo federal invista na capacidade produtiva dos índios”, afirma.
Na breve conversa que tivemos, quando ela esteve hoje (25), em Manaus, para participar de uma conferência sobre alternativas energéticas para áreas indígenas, Joenia ou Joenia Wapixana, como é conhecida, confirmou que sua tarefa como mulher e indígena no cenário político atual “é bem difícil, mas não é impossível. Minha missão é ser a voz dos indígenas para que nossos direitos sejam mantidos e assegurados e que pautas do nosso interesse possam ser ouvidas e discutidas na Câmara.”
Otimista, a deputada federal que também é advogada, mestre pela Universidade do Arizona (EUA) e vencedora do prêmio de Direitos Humanos da ONU em 2018, não esmorece mesmo diante das afirmações do Governo Federal sobre também abrir as terras indígenas para exploração mineral.
Aliás, o discurso do executivo federal é o oposto da luta que Joenia Wapixana vem travando na sua trajetória. E, se for concretizado, poderá ser um duro golpe para os indígenas no Brasil, especialmente em Estados como Roraima e Amazonas, que concentram as maiores reservas de terras de etnias indígenas.
Ornada com colar de contas coloridas e brinco de pena, ela afirma sem alterar a voz: “Eu vou falar para todo mundo ouvir que não precisamos cavar a terra para desenvolver nosso país. É possível fazer isso com sustentabilidade. Já fazemos isso em várias partes do meu Estado, Roraima”, garante.
E mais: até a energia elétrica que pensam ser uma ótima opção para as comunidades indígenas, precisa ser discutida. “O que precisamos é sermos ouvidos e respeitados, antes de tudo.”
Se nada do que Joenia Wapixana bradar for levado em conta, sua história de vida por si só, até aqui, já é uma grande vitória para mulheres e índios brasileiros.

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