Isolamento dos EUA após ataque ao Irã favorece a China

Após novo ataque com mísseis no último domingo (12) à base iraquiana de Balad, que também abriga tropas norte-americanas, e as ameaças não cumpridas por parte dos Estados Unidos na figura de seu presidente, Donald Trump, que sugeriu a possibilidade de dizimar dezenas de alvos iranianos, a crise no Oriente Médio voltou ao “ponto inicial”.

Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Williams Gonçalves, Trump não soube proceder na fase subsequente ao ataque que matou o general iraniano Qassem Soleimani, ficando isolado no cenário internacional. A Rússia e, principalmente, a China, que se manifestaram contra a intervenção dos Estados Unidos, saem fortalecidas após o episódio, que serviu para insuflar o sentimento antiamericano na região.

“Sob certo ponto de vista, podemos entender que esse ataque é uma tentativa dos Estados Unidos de fazer valer a sua autoridade e marcar posição, num contexto em que se veem perdendo terreno para os chineses”, afirmou o professor ao jornalista Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (14).

Ele destaca a tradição dos chineses, diferentemente dos norte-americanos, de não intervenção nos assuntos internos de outros Estados. “Os chineses se entendem com qualquer tipo de governo, seja democrático ou ditatorial.” Chineses, russos e iranianos chegaram a realizar exercícios navais no final de 2019, na região do golfo de Omã.

Sobre a mensagem de Trump dirigida ao povo do Irã, em apoio às manifestações que ocorreram no país após a derrubada do avião ucraniano, em meio à escalada militar contra os Estados Unidos, Gonçalves vê com certa naturalidade.

“O que os Estados Unidos fazem e continuarão fazendo é fomentar a oposição que consideram interessante. O resultado ótimo para os EUA seria a queda do regime dos aiatolás e a ascensão de um governo de confiança, como havia antes da Revolução Islâmica. O que eles querem é o controle do petróleo e um aliado fiel junto à Rússia e neutralizar um país que causa insegurança a Israel.”

Apesar da “jogada desastrada” contra o Irã, o professor também disse não acreditar que o episódio traga consequências mais profundas para a disputa interna na política estadunidense, que tem eleições marcadas para novembro deste ano. Ele diz que a retórica militar contra o Irã é consenso entre a elite política dos Estados Unidos e, até mesmo entre democratas e intelectuais, que veem o regime dos aiatolás como antidemocrático e opressor dos direitos das mulheres e outras minorias.

FONTE: Rede Brasil Atual

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