Companhia baiana Bando de Teatro Olodum apresenta espetáculo ‘Erê’, no Teatro da Instalação
Com concepção geral do ator Lázaro Ramos, peça marcou os 25 anos da companhia denunciando chacinas que tiram vidas de jovens negros emfavelas
Pela primeira vez em Manaus, a companhia baiana de Teatro Olodum apresenta a peça “Erê”, nos dias 5, 6 e 7 de abril (sexta, sábado e domingo), no Teatro da Instalação. A programação oferecida pela companhia ainda inclui oficinas nos centros culturais Palácio da Justiça e Palácio Rio Negro. O espetáculo, que conta com apoio da Secretaria de Estado de Cultura (SEC), tem recursos de acessibilidade (libras e audiodescrição), entrada gratuita e classificação livre.
Na sexta e nos sábado, a peça “Erê” terá sessões às 16h e 20h e, no domingo, às 19h. O espetáculo foi montado em 2015 para celebrar os 25 anos de criação do Bando de Teatro Olodum, denunciando chacinas que tiram a vida de jovens negros.
Com 16 atores em cena, reunindo os veteranos e os novos atores da companhia, mais o ator convidado Rui Manthur, parceiro e amigo do Bando, a peça tem concepção geral do ator Lázaro Ramos, direção de Fernanda Júlia e Zebrinha (que também assina a coreografia), dramaturgia de Daniel Arcades e direção musical de Jarbas Bittencourt.
A montagem é inspirada no espetáculo “Erê pra toda a vida/Xirê”, criado pelo próprio Bando de Teatro Olodum, para participação no Festival Carlton Dance, em 1996, com apresentações no Rio de Janeiro e São Paulo, e uma turnê por Londres, sem nunca ter sido apresentado em Salvador.
Denunciar o sistema – O ator Ridson Reis, que integra a companhia, destaca que o elenco está feliz e ansioso pela estreia em Manause pela apresentação de uma obra tão relevante para o País.
“Nesta obra, fazemos um apanhado desde 1990, das chacinas que ocorreram, e ainda ocorrem, contra a juventude negra, em diversos lugares do Brasil. Estamos falando de um assunto pertinente, mas também levamos ao público um espetáculo teatral muito bonito e emocionante. Esperamos que a plateia se encontre e saia do teatro reflexiva e maravilhada ao mesmo tempo”, diz.
De acordo com Reis, as chacinas expostas no espetáculo denunciam um sistema falho e fazem com que as tragédias não sejam esquecidas. “Acredito ser pertinente e quase impossível não se usar a arte como ferramenta de transformação da sociedade e do ser humano. Chacinas como as que rememoramos no espetáculo precisam estar sempre em pauta para que, assim, não esqueçamos do quanto nosso sistema é falho, genocida e escolhe os seus alvos. Com isso, tentamos não deixar que o assunto vire arquivo e caia no esquecimento”, declara.
Chacinas – “Dizem que quando um velho morre, uma biblioteca se perde. E quando um jovem é morto, precocemente, quem seimporta com esse caderno ainda sem escrita?”, esta é uma das questões levantadas de forma contundente pela peça. A nova montagem do Bando de Teatro Olodum é mais política e traz à tona as diversas chacinas que tiveram como alvos jovens e crianças negras, como a da Candelária (RJ), Cabula (SSA), Vigário Geral (RJ), Favela Naval (Diadema-SP) e Acari (RJ).
A companhia ressalta no espetáculo casos como o da favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão-RJ, quando 13 pessoas foram mortas em uma única ação policial, em 1994, e outras 13, seis meses depois. Até hoje, nenhum culpado foi punido. Tragédias como esta levaram o País a ser denunciado em órgãos internacionais como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Organização das Nações Unidas (ONU).
“Os anos se passaram, essas chacinas continuam e o teatro negro segue fazendo a denúncia. São meninos morrendo, erês sem setornarem mais velhos”, destaca Fernanda Júlia, que soma sua experiência à frente do Núcleo de NATA (Núcleo Afro-Brasileiro de Teatrode Alagoinhas), fundado em 1998, ao talento do elenco e diretores do Bando de Teatro Olodum, criado oito anos antes do grupo de Alagoinhas.
“O Bando influenciou o NATA e agora o NATA retoma para dialogar com o Bando com tudo que recebeu de influência”, ressalta Daniel Arcades, outro integrante do NATA. “Lázaro Ramos tem sido o provocador, que dá o caminho político e eu estou construindo as situações, as cenas, experimentando as palavras na boca dos atores. A parceria tem sido fantástica”, destaca.
Oficinas – O grupo ainda oferece a oficina gratuita “Performance Negra”, nos dias 6 e 7 de abril (sábado e domingo), das 9h ao meio-dia, ministrada pelo próprio Bando, envolvendo Teatro, Dança, Música, e Memória e Identidade.
As oficinas acontecem no Centro Cultural Palácio da Justiça (Oficina de Teatro), no Centro Cultural Palácio Rio Negro (Oficina de Música), no Cine Teatro Guarany (Memória e Identidade) e no próprio Teatro da Instalação (Oficina de Dança). As inscrições para as oficinas podem ser feitas pelo link bit.ly/OficinasEre.
A circulação do espetáculo “Erê”, no Norte do País, foi contemplada pelo Programa Petrobras Distribuidora de Cultura 2017/2018, seleção pública que tem como objetivo contemplar projetos de circulação de espetáculos teatrais não inéditos, em parceria com o Ministério da Cultura. No último edital foram investidos R$ 15 milhões. Ao todo, foram escolhidos 57 espetáculos, representantes de todas as regiões do país, com apresentações em todos os estados.
Confira a programação completa:
Sexta-feira (5/4)
“Erê” – 1ª sessão às 16h
“Erê” – 2ª sessão às 20h
Sábado (6/4)
Oficina de Teatro – Centro Cultural Palácio da Justiça – 9h a meio-dia
Oficina de Música – Centro Cultural Palácio Rio Negro – 9h a meio-dia
Oficina Memória e Identidade – Cine Teatro Guarany – 9h a meio-dia
Oficina de Dança – Teatro da Instalação – 9h a meio-dia
“Erê” – 1ª sessão às 16h
“Erê” – 2ª sessão às 20h
Domingo (7/4)
Oficina de Teatro – Centro Cultural Palácio da Justiça – 9h a meio-dia
Oficina de Música – Centro Cultural Palácio Rio Negro – 9h a meio-dia
Oficina Memória e Identidade – Cine Teatro Guarany – 9h a meio-dia
Oficina de Dança – Teatro da Instalação – 9h a meio-dia
“Erê” – Última apresentação, às 19h
Mais informações: Assessoria de Imprensa – Secretaria de Estado de Cultura (SEC)