Romance inédito de Silvino Santos será transcrito
O manuscrito não publicado intitulado ‘Romance da Minha Vida’, que integra o acervo de Silvino Santos e que se encontra sob tutela do Museu Amazônico, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), é o objeto de estudo da equipe do Laboratório de Pesquisa em Arquivologia, História e Patrimônio, coordenado pelo professor Leandro Coelho de Aguiar, ligado à Faculdade de Informação e Comunicação (FIC). É o Laboratório o responsável pelo projeto desde 2018, que busca proceder ao diagnóstico, à preservação e à oferta de instrumentos de pesquisa sobre as obras do português radicado no Norte.
Ao todo, são mais de 1.600 itens que retratam a vida e a obra de Silvino Santos, que todos conhecem enquanto fotógrafo e cineasta que representou a região Norte. Sua coleção é formada por fotografias, negativos em vidro, filmes, equipamentos fotográficos, documentos e objetos pessoais, recortes de jornais, revistas, livros e manuscritos adquiridos pela Ufam, por meio de compra e doações.
No ano de 1997, o manuscrito do romance integrou uma exposição local que buscava retratar a Amazônia nas primeiras duas décadas do século XX. Em outro momento, foi estudada em versão preliminar em tese submetida à Universidade de São Paulo (USP), mas, só agora, recebe atenção de uma equipe de pesquisadores para fins de transcrição. De acordo com o professor Leandro Coelho de Aguiar, mesmo com o projeto focado ainda em andamento, alguns resultados se mostram relevantes.
“Estamos na etapa de levantamento das informações do acervo para, posteriormente, produzir um catálogo que será publicado em formato físico e digital”, adiantou o professor. “Estamos diante de um romance que nos apresenta uma outra vertente do talento de Silvino e, pela relevância social e histórica dele, entendemos a importância de esmiuçar esse achado e convertê-lo em um legado para a nossa cultura brasileira, uma vez que Silvino era um dos principais nomes a retratar a nossa região para o país e para o mundo”, considerou.
O diretor lembrou também que acervos bem catalogados e identificados facilitam o trabalho dos pesquisadores. Ao falar especificamente sobre o Romance, o responsável pelo Museu Amazônico enfatizou que ele não se resume apenas a uma autobiografia.
“Trata-se de um relato histórico, desde a sua infância em uma aldeia portuguesa, passando pela adolescência e chegando até a vida adulta. Destaco que como se tratava de uma pessoa com muitas experiências, sobretudo de viagens, Silvino Santos narrou no manuscrito os aspectos políticos e econômicos dos países em que ele visitou como França, Portugal e Brasil. Há aspectos que o Romance do Silvino proporciona informações muito ricas, principalmente, históricas. Lembro que existem algumas dissertações e teses que mencionam a existência do ‘Romance da Minha Vida’, mas nenhuma analisou a fundo. O que estamos fazendo agora é a transcrição do Romance, respeitando caligrafia e a gramática da época. Os alunos de Arquivologia, coordenados pelo professor Leandro, deram continuidade ao processo de identificação e catalogação deste material. Segundo minhas pesquisas preliminares, o manuscrito não foi editado e o Museu Amazônico tem projeto para futura publicação”, disse.
Para a museóloga do Museu Amazônico, Lucimery Ribeiro, do ponto de vista museológico, o projeto “Diagnóstico do acervo documental histórico do Museu Amazônico”, coordenado pelo professor Leandro Aguiar, auxilia a manutenção de uma etapa importante no papel dos museus: o da preservação.
Silvino Santos
Português radicado no Norte do Brasil, Silvino Santos desenvolveu seu trabalho – primeiramente com fotografia, em seguida com cinema – em Manaus (AM), onde morreu em 1970, aos 84 anos. É do cineasta e fotógrafo alguns dos mais importantes registros visuais da Amazônia, como por exemplo, na primeira metade do século 20, o filme “No Paiz das Amazonas” (1921). As obras foram bem recebidas à época de lançamento, apresentadas com bons públicos nas principais capitais brasileiras e na Europa. Trata-se de um pioneiro da fotografia e do cinema no Brasil, que legou importantes registros da vida social e cultural da Amazônia da primeira metade do século XX.