PF pede buscas contra ministro mas Raquel e Fachin negam
A Polícia Federal pediu ao ministro Edson Fachin, relator da operação Registro Espúrio no Supremo Tribunal Federal, para realizar busca e apreensão em endereços de Carlos Marun, secretário de Governo de Michel Temer.
De acordo com os investigadores, as buscas tinham o objetivo de avançar na apuração da relação entre Marun e a organização criminosa que cobrava propina para emitir registros sindicais no Ministério do Trabalho. O caso foi revelado pelo jornal Folha de S. Paulo.
Ao negar o pedido, Fachin acolheu a recomendação da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Segundo ela, ainda não há elementos que comprovem a participação de Marun nos crimes investigados.
Ao solicitar busca contra Marun e sua chefe de gabinete, Vivianne Melo, a PF citou conversas interceptadas com alvos da operação que apontam para a participação do ministro. Segundo os investigadores, os diálogos mostram que ele valia de sua posição e cargo político para solicitar registros sindicais a entidades de seu interesse.
De acordo com os relatos da mídia, a PF afirma que Marun estaria atuando em favor do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias e Cooperativas de Carnes e Derivados, Indústrias da Alimentação de São Gabriel do Oeste (Sintrael), que é do Mato Grosso do sul, base eleitoral do ministro.
Segundo a Folha de S. Paulo, os investigadores registraram que, em 23 de maio, Júlio de Souza Bernardo, chefe de gabinete do Ministério do Trabalho preso nesta quinta-feira 5, enviou uma mensagem a Renato Araújo Júnior, ex-coordenador de Registro Sindical do Ministério do Trabalho e também detido, na qual pediu que um despacho no Diário Oficial da União fosse revertido para atender a um pedido de Marun.
O despacho determinava a retirada do termo “cooperativas” do Sintrael e excluía a cidade de São Gabriel da base territorial do Sindicato Estadual dos Trabalhadores Celetistas nas Cooperativas no Mato Grosso do Sul (Sintracoop-MS).
Ex-aliado de Eduardo Cunha, Carlos Marun assumiu a Secretaria de Governo no fim do ano passado, após a saída do tucano Antonio Imbassahy do cargo. Ele ficou marcado por dançar em comemoração ao fato de a Câmara ter barrado uma acusação contra Temer no âmbito da delação da JBS. Ele também apresentou um relatório na CPI que investigava o caso no qual pediu o indiciamento de Rodrigo Janot, responsável por apresentar duas denúncias contra o atual presidente.
A Polícia Federal deflagrou na manhã desta quinta-feira a terceira fase da operação Registro Espúrio, que investiga um esquema de cobrança de propinas para a concessão de registros sindicais no Ministério do Trabalho, comandado pelo PTB. Por decisão de Edson Fachin, o ministro da pasta, Helton Yomura, foi afastado. Os policiais também cumprem mandado de busca e apreensão no gabinete do deputado federal petebista Nelson Marquezelli.
Ao todo, foram expedidos pelo Supremo 10 mandados de busca e apreensão e 3 mandados de prisão temporária, em Brasília e Rio de Janeiro. Além do PTB, o Solidariedade, que também possui influência no ministério, além de centrais sindicais, estão no centro das apurações. O Ministério do Trabalho tem sido alvo do STF desde o início do ano.
Indicada ao cargo por seu pai Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, a deputada Cristiane Brasil foi impedida de assumir a pasta por ter sido condenada em ações trabalhistas. Cristiane Brasil foi alvo da segunda fase da operação da PF, realizada em maio. A deputada foi alvo de busca e apreensão em seus endereços. Outros petebistas atingidos pelas investigações da PF são o próprio Jefferson e o deputado Jovair Arantes (GO).
O deputado Paulinho da Força (SD-SP), líder da Força Sindical, também é investigado. Após assumir o cargo, Yomura atacou a Organização Internacional do Trabalho (OIT), referência na área, por incluir o Brasil em uma lista suja de países com graves violações trabalhistas. Em genebra, o então ministro afirmou que a OIT tinha motivações “político-ideológicas”.
Carta Capital