Lula: “Temos de garantir emprego ao povo e o fim da fome”
Duas palavras não saem da cabeça do ex-presidente Lula: auxílio e vacina. Em entrevista à rede Al Jazeera, no sábado (17), Lula afirmou que a prioridade do governo na maior crise humanitária do Brasil deve ser o amparo à população mais vulnerável e a aquisição de mais vacinas contra a Covid-19. Lula defendeu que o auxílio de R$ 600 deve ser financiado pelo Tesouro enquanto durar o surto do novo coronavírus no país. Ele demonstrou preocupação com a gravidade da crise.
“Voltamos a ter 19 milhões de pessoas passando fome no país, mais de 14 milhões de pessoas desempregadas, a massa salarial caiu muito”, avaliou o ex-presidente. Para ele, o povo precisa do Estado mais do que nunca.
“Temos que cuidar, primeiro, de lutar para que todo o povo brasileiro tenha vacina, lutar para tenhamos ajuda emergencial financiada pelo Tesouro para amparar os mais necessitados e as pessoas desempregadas”, disse.
Para Lula, o governo precisa coordenar estas ações a outras medidas de estímulo econômico. “Também precisamos de um crédito especial para financiar o pequeno e médio investidor brasileiro e uma política de investimento público para gerar empregos”, sugeriu.
Além disso, ressaltou o petista, é necessário uma coordenação nacional para o enfrentamento da pandemia. “[É preciso] uma política para cuidar das pessoas, que precisam evitar aglomeração, se higienizar direito, lavar as mãos, usar máscara. Não pode entrar em ônibus, metrô ou trem lotado… Nossa tarefa é cuidar do povo brasileiro. Depois discutimos eleição”, considerou.
Bolsonaro genocida
Lula voltou a criticar duramente o descaso do governo Bolsonaro durante a crise sanitária. Para ele, Bolsonaro criou o caos no Brasil. “Eu acho que qualquer ser humano civilizado que fosse presidente estaria cuidando melhor do Brasil. Porque deveríamos ter começado a cuidar quando o coronavírus apareceu na China e o primeiro caso no Brasil, em fevereiro do ano passado”, ponderou.
“O governo é irresponsável, não acreditou no vírus, na pandemia, que era necessário as pessoas ficarem isoladas em casa, não acreditava no uso de máscaras”, explicou Lula. “Bolsonaro passou a receitar remédio que nenhum cientista recomendava… Tenho tratado nosso presidente como um genocida. É o primeiro presidente que é irresponsável no trato de uma doença. Não respeita a ciência e a medicina e não demonstra o mínimo de humanismo que um presidente deve ter. É lamentável que o Brasil esteja nessa situação”, acusou.
Lula afirmou que o país teve oportunidades para garantir uma oferta para uma cobertura vacinal de toda a população mas Bolsonaro se negou a negociar os imunizantes. Como resultado, o Brasil foi para o fim da fila da corrida por vacinas.
“Quando ele teve à disposição 700 milhões de vacinas, algo que o povo brasileiro necessitava, se recusou a comprar. Por isso o Brasil hoje virou epicentro do Covid-19”, criticou.
Anulação dos processos pelo STF
Lula comentou a anulação de suas condenações pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e lembrou que sua defesa apontava as falhas do processo e as ilegalidades cometidas pelo então juiz Sergio Moro desde 2016.
“Sergio Moro não é um juiz, ele é um mentiroso”, definiu. “Ele mente a meu respeito desde que meu processo foi para Curitiba. Estamos contando a falsidade da denúncia contra mim há cinco anos. E agora a Suprema Corte atendeu aquilo que a gente reivindicava. Sergio Moro não agiu como juiz. Ele foi suspeito, mentiu o tempo inteiro, assim como os procuradores”.
“Só lamento que tenha levado cinco anos para provar toda a sordidez das mentiras contadas contra mim”, destacou. Lula reiterou que não teme novos processos contra ele. “Não tenho qualquer preocupação com qualquer tentativa de processo porque tenho certeza da minha inocência”
Interesses estrangeiros no Brasil
Lula levantou suspeitas sobre os motivos geopolíticos por trás do interesse de procuradores suíços e americanos na sua prisão, no âmbito da Lava Jato. “A história vai contar o que houve”.
Para o ex-presidente, desde a descoberta do pré-sal em 2007, houve crescente temor dos EUA de que o Brasil ocupasse um lugar de maior destaque no tabuleiro de forças políticas internacional.
“Nós mudamos a Lei do Petróleo para que o povo brasileiro fosse dono do petróleo. As empresas americanas, e outras empresas que são donas do petróleo no mundo nunca aceitaram a regulação que nós fizemos”, apontou.
“Era preciso tirar a Dilma, podar Lula para não ser candidato, para tentar destruir as empresas de engenharia desse país para que as empresas americanas pudessem vir trabalhar aqui. Temos vídeos gravados de procuradores americanos batendo palma pela minha prisão, de procuradores americanos falando que era necessário me prender e temos documentos provando a participação de procuradores suíços. É um crime internacional contra o Brasil, contra o nosso governo”, denunciou.
Ele citou o fenômeno ‘lawfare’, a utilização da justiça como instrumento de perseguição política, um fenômeno novo na política internacional. “Já aconteceu em outros países, como o Equador. Está acontecendo comigo e já aconteceu nos EUA. Temos que ter paciência”, disse ele, apontando para revelações que desnudaram a farsa da Lava Jato.
“Hoje está mais público o que aconteceu no Brasil. Aprendemos muito com tudo o que aconteceu. Vimos a indústria de engenharia, naval serem destruídas. A de petróleo e gás está sendo destruída e vendida. Com a Lava Jato, o Brasil deixou de receber R$ 172 bilhões em investimentos. E perdemos 4,4 milhões de postos de trabalho. Foi esse o efeito do processo da Lava Jato”.