Comunidade denuncia abandono e cobra solução para lixão em Iranduba
O cheiro forte denuncia o problema antes mesmo que se veja o lixo. No ramal da Dona Creuza, no quilômetro 6 de Iranduba (AM), montanhas de resíduos a céu aberto convivem lado a lado com as casas de famílias que, há anos, vivem cercadas pela degradação ambiental e pelo descaso do poder público.
“Quem sofre é o povo”, desabafa o líder comunitário Benedito Leite, ao mostrar a dura realidade dos moradores da área. O lixão, que deveria ter sido desativado há muito tempo, se transformou em uma ferida aberta na cidade. “Aqui é mau cheiro o dia todo, urubu, mosca, lama. A gente vive no meio da sujeira, sem nenhum tipo de cuidado da prefeitura”, relata.
A situação é ainda mais simbólica diante da estrutura improvisada que serve de guarita no local, que está sem luz, sem água e sem condições básicas de trabalho. “Nem o segurança tem dignidade. Isso aqui é o retrato do abandono”, lamenta Benedito.
Projeto de solução foi descartada pela prefeitura
O que revolta os moradores é saber que um projeto voltado para a implantação de um moderno Serviço de Tratamento em Resíduos Sólidos, elaborado pela empresa Norte Ambiental, foi descartado pelo prefeito de Iranduba, Augusto Ferraz, mesmo após aprovação de diversos órgãos competentes do governo estadual e federal na questão ambiental.
“Na primeira vez, ele disse que era a favor; agora, já é contra. Um homem de duas palavras não é homem suficiente”, critica o líder comunitário, em tom de indignação.
O projeto da Norte Ambiental prevê a construção de um aterro sanitário tecnicamente adequado, capaz de encerrar definitivamente o lixão, gerar empregos formais e garantir tratamento ambiental correto aos resíduos de Iranduba. O modelo segue todas as normas técnicas exigidas pela legislação brasileira, incluindo controle de chorume, gases e recuperação da área degradada.
População exposta e sem alternativas
Sem uma solução definitiva, os moradores e catadores da região continuam expostos a riscos ambientais e sanitários. Crianças brincam próximo ao lixo, e a água usada nas casas é contaminada pela infiltração dos resíduos. “Aqui tem gente que vive da coleta, mas não tem nenhum tipo de apoio. Queremos um projeto que funcione, que traga condições dignas para quem vive aqui”, reforça o líder comunitário.
O cenário contrasta com o discurso da atual gestão, que, segundo os moradores, não apresentou nenhuma alternativa viável após recuar do apoio ao aterro sanitário. “A cidade está crescendo, mas continua jogando o lixo no quintal das pessoas. Isso não é progresso, é retrocesso”, afirma Benedito.
Para os moradores, o aterro sanitário da Norte Ambiental representa uma chance real de transformar a gestão de resíduos do município, resgatar a dignidade das famílias e acabar com anos de descaso.
“Não queremos promessa, queremos ação. A solução está pronta, mas a prefeitura virou as costas. Enquanto isso, quem sofre é o povo”, conclui. O projeto da Norte Ambiental está inserido no Programa Nacional de Resíduos Sólidos e recebeu pareceres favoráveis de órgãos ambientais e técnicos. A proposta segue o que determina a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010), que prevê o fim dos lixões e a implantação de aterros sanitários com gestão integrada.

