Com Bolsonaro, Brasil perdeu mais de 716 mil empresas em junho
A insistência do ministro da Economia, Paulo Guedes, em privilegiar o mercado financeiro em detrimento da economia produtiva está levando à generalizada “morte de CNPJs”.
A pesquisa ‘Pulso Empresa: Impacto da Covid-19 nas Empresas’, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que, de 716,4 mil empresas que encerraram definitivamente as atividades na primeira quinzena de junho, 522,7 mil o fizeram por não suportarem o impacto das medidas para a contenção da pandemia.
Desse total, 518,4 mil (99,2%) eram de pequeno porte (até 49 empregados), 4,1 mil (0,8%) de porte intermediário (de 50 a 499) e 110 (0%) de grande porte (mais de 500 empregados). Entre elas, 258,5 mil (49,5%) eram do setor de Serviços, 192,0 mil (36,7%) do Comércio, 38,4 mil (7,4%) da Construção e 33,7 mil (6,4%) da Indústria.
Na primeira quinzena de junho, estima-se que o país tinha quatro milhões de empresas, sendo 2,7 milhões (67,4%) em funcionamento total ou parcial e 1,3 milhão fechadas temporária ou definitivamente, independentemente de motivo. Entre as que estavam com atividades encerradas definitivamente, as de menor porte (715,1 mil ou 99,8%) foram as mais atingidas, enquanto 0,2% (1,2 mil) eram intermediárias e nenhuma era de grande porte.
O setor de Serviços (46,7% ou 334,3 mil) teve a maior proporção de empresas encerradas em definitivo, seguido por Comércio (36,5% ou 261,6 mil), Construção (9,6% ou 68,7 mil) e Indústria (7,2% ou 51,7 mil).
Do total de empresas em funcionamento, 70,0% informaram que a pandemia teve impacto negativo, 16,2% declararam que o efeito foi pequeno ou inexistente e 13,6% disseram que o impacto foi positivo. Os efeitos negativos foram percebidos por 70,1% das empresas de pequeno porte, 66,1% das intermediárias e 69,7% das de grande porte. Entre os setores, essa percepção negativa foi de 74,4% entre as empresas de Serviços, 72,9% da Indústria, 72,6% da Construção e 65,3% de Comércio.
A queda nas vendas ou serviços em decorrência da pandemia foi sentida por sete em cada dez empresas em funcionamento na primeira quinzena de junho em relação a março: 70,9% das companhias de pequeno porte, 62,9% das intermediárias e 58,7% das de grande porte. Para os setores, o impacto ocorreu em 73,1% das empresas de Construção, 71,9% de Serviços, 70,8% de Comércio e 65,3% da Indústria.
Enquanto 63,7% tiveram dificuldades para realizar pagamentos de rotina, para 33,1% não houve alteração significativa. Estima-se que 1,2 milhão (44,5%) das empresas em funcionamento adiaram o pagamento de impostos desde o início de março.
“Essas dificuldades foram bastante disseminadas pelos setores, chegando a sete em cada dez empresas do comércio, e seis em cada dez da indústria e dos serviços”, destaca o coordenador de Pesquisas Conjunturais em Empresas, Flávio Magheli.
Apenas 347,7 mil (12,7%) empresas conseguiram crédito emergencial para pagamento da folha salarial desde o início da pandemia. Pouco mais de seis em cada dez empresas (61,2%) mantiveram o número de funcionários em comparação ao início de março, e 34,6% indicaram redução no quadro.
Acesso a crédito ainda é restrito
Ao longo do mês passado, subiu de 39% para 46% o percentual de micro e pequenas empresas que procuraram financiamento bancário durante a pandemia. No início da quarentena, a proporção era de 30%. Com a alta da demanda e o início do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), a taxa de aceitação dos empréstimos também subiu. Mas em ritmo aquém do esperado – de 16% para apenas 18%.
Os dados fazem parte da 5ª pesquisa ‘O impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios’, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Foram ouvidas 6.470 companhias, entre Microempreendedores Individuais (MEI), Microempresas e Empresas de Pequeno Porte.
“Entre os principais motivos para a recusa dos bancos está a negativação; sendo o CPF com restrição a principal razão pela não obtenção de crédito entre os MEI e a negativação no CADIN/Serasa, no caso das ME e EPP”, informou o Sebrae.
Também é grande o número de empresas que não foram informadas pelos bancos do motivo da recusa (14%), e das empresas que sofrem com falta de garantias ou avalistas (10%). O levantamento também aponta que a proporção de pequenos negócios com redução no faturamento caiu de 89% para 84%, desde março, quando foi feita a primeira edição da pesquisa. Essa recuperação, entretanto, não é igual para todos os segmentos.
“O estancamento na queda de faturamento sinaliza um tímido movimento de recuperação. Mas ainda estamos longe de vencer a crise. E sem o destravamento do dinheiro disponível nos bancos, essa retomada será extremamente lenta ou até fatal para os pequenos negócios, pois a reabertura implica em gastos e não necessariamente em demanda de clientes”, ressalta o presidente do Sebrae, Carlos Melles.
De uma forma geral, a pesquisa também mostra que houve uma redução na restrição de circulação de pessoas no período analisado, com queda de 63% para 54% nas medidas de quarentena (fechamento parcial) e lockdown (fechamento total).
Por outro lado, observa-se que as regiões em que o nível de isolamento era menor, como Sul e Centro-Oeste, caminham agora em sentido contrário ao movimento nacional e tiveram que aumentar as medidas de isolamento. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a restrição subiu de 38% para 72% nos últimos 30 dias.