As “Petas” de Parintins
Chegar em Parintins é sentir uma paixão diferente do que estamos acostumados. E não é uma paixão apenas pelos Bois Caprichoso ou Garantido. É um sentimento arrebatador por um lugar onde tudo acontece em um ritmo que não estamos acostumados, onde as pessoas, os costumes, as palavras e o modo de levar a vida são diferentes do nosso.
É ir tomar café no Mercado Municipal Leopoldo Neves, olhando o rio e ouvindo toada. É tomar tacacá, ouvir histórias, ver as casas inteiras pintadas de vermelho ou azul, as bandeirinhas nas ruas e se encantar pelo amor que as pessoas têm por essas cores.
Voltei à Parintins esse ano depois de algum tempo e vi que, mesmo com muita mudança, a força daquele local que me encantou desde a primeira vez continua igual. Mas esse ano foi diferente. Esse ano, conheci a “Peta”, uma senhora simples, costureira e trabalhadora demais, que nunca tinha ouvido falar de mim, mas que por uma indicação me abrigou na sua casa humilde e muito acolhedora, me emprestou o melhor quarto da casa, me mostrou onde estavam as coisas para eu fazer um café, me deu a chave e me ensinou o segredo para fechar a porta principal com uma cadeira.
E ela não estava me alugando o espaço, estava apenas atendendo ao pedido de uma amiga em acolher duas pessoas desconhecidas em casa – eu e minha amiga, que foi à ilha pela primeira vez.
Em meio à loucura que tomava conta da ilha durante o Festival, Peta continuou sua rotina de trabalho e de cuidado, até mesmo com as duas estranhas que estavam em sua casa. Nos mostrou com orgulho como está aumentando sua casa. Falou como trabalha duro durante todo o ano e contou que, naquele sábado, precisou voltar cedo pra casa porque não aguentou o calor que fez durante todo o dia.
Enquanto eu e a minha amiga nos preparávamos para ir para o Bumbódromo, um cheiro diferente tomou conta da casa. Era a Peta fazendo um caldo de bodó, daqueles que a gente costuma falar que “só tem em Parintins”.
E a Peta não é uma exceção à regra, ela é a cara de Parintins. Ela é a cara de todo morador da ilha. A ilha de várias “Petas”. Meu boi Caprichoso não levou o tricampeonato, mas saber que pessoas como a Peta puderam comemorar o 32º título do Garantido me deixou feliz e com a certeza de que a vitória é para eles, para a torcida que trabalha duro o ano todo e que merece descer até a Baixa do São José festejando até de manhã.
Por Karol Pacheco