Jovem morre na França após chamar ambulância e ser ironizada por operadora
Uma jovem de 22 anos morreu por falência múltipla dos órgãos, em Estrasburgo, França, horas depois de ter chamado uma ambulância, através da linha telefónica de emergência, e ter visto o pedido de socorro ignorado pela operadora de serviço, que, num tom jocoso, desvalorizou a situação.
O caso polémico está a causar uma onda de revolta e indignação em França, depois de, esta semana, ter sido noticiado pela imprensa, que divulgou o áudio da chamada telefónica de emergência entre a vítima e a telefonista.
Naomi Musenga ligou para o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) queixando-se de dores abdominais fortes. Talvez por não ter conseguido ser detalhada ao expor os sintomas – apenas pediu ajuda continuadamente -, a operadora de linha não terá levado a sério as queixas e desvalorizou a situação. “Vou morrer”, disse a mulher, durante o telefonema, que teve a duração de três minutos. “Vai morrer de certeza, um dia, como toda a gente”, respondeu a funcionária, enquanto ironizava o estado de saúde de Naomi em conversa com um colega.
Depois de lhe ter dito que não conseguia ajudar a jovem, a telefonista sugeriu-lhe que contactasse o “SOS Médécins”, serviço de consultas médicas a domicílio. Assistida num hospital horas depois, Naomi acabou por morrer, tendo a autópsia ao corpo revelado, mais tarde, falência múltipla dos órgãos como causa da morte.
A telefonista foi suspensa e a Procuradoria de Estrasburgo anunciou, esta quarta-feira, que abrirá um inquérito por negligência.
A ministra da saúde francesa, Agnès Buzn, manifestou, no Twitter, estar “profundamente indignada” com as circunstâncias da morte da jovem. “Quero assegurar à família o meu total apoio e solicitar um inquérito à IGAS (Inspeção-Geral das Atividades em Saúde) sobre estas falhas graves”, escreveu.
A morte deu origem ao início de um debate geral em torno do funcionamento do serviço de emergência, em França, com vários críticos a apontarem a falta de recursos como um problema estrutural no setor. Em resposta, em entrevista à rádio France Info, a ministra declarou, esta quarta-feira, que o caso é “particular, individual” e não reflete qualquer outra falha na Saúde.
“Fica claro que o problema é de alguém que não tem absolutamente nenhuma empatia, que não aplica os procedimentos, e que brinca com alguém que está doente”, acrescentou. Segundo a governante, o SAMU recebe, em média, 25 milhões de telefonemas por ano e “na grande maioria dos casos, os pacientes são muito bem tratados”.
Por outro lado, em entrevista ao “Le Parisien”, o presidente da associação de médicos de emergência, Patrick Pelloux, defendeu que os funcionários do setor estão “exaustos, stressados e à beira do colapso” e consequentemente “distanciados do sofrimento do paciente”, solicitando a contratação de mais profissionais para as linhas telefónicas de emergência.