Máfia de Curitiba: Dallagnol negociou em sigilo com os EUA divisão de dinheiro da Petrobras
por BRASIL 247
Durante um período de mais de três anos, o ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol conduziu negociações secretas com as autoridades dos Estados Unidos para estabelecer um acordo sobre a divisão dos valores que seriam cobrados da Petrobrás em multas e penalidades decorrentes de casos de corrupção, revelam Jamil Chade, do UOL, e Leandro Demori. Essas negociações não contaram com a participação da CGU (Controladoria-Geral da União), órgão competente por lei para tais questões.
As conversas ocorreram por meio do aplicativo Telegram e não foram oficialmente registradas, envolvendo procuradores suíços e brasileiros. Tais interações foram motivadas pelo papel das autoridades de Berna na busca, confisco e detalhamento das contas utilizadas como destino para as propinas investigadas no âmbito da Operação Lava Jato. No entanto, ambos os lados consideraram estratégico envolver também a Justiça dos Estados Unidos, que estava conduzindo sua própria investigação sobre o caso.
Os diálogos foram apreendidos pela Polícia Federal durante a operação Spoofing, uma investigação relacionada ao hackeamento de procuradores e do ex-juiz parcial e hoje senador Sergio Moro (União Brasil-PR), no caso amplamente conhecido como Vaza Jato.
Em 29 de janeiro de 2016, Dallagnol comunicou aos suíços o resultado dos primeiros contatos estabelecidos por ele com as autoridades americanas, conforme revelado nos registros obtidos pela investigação: “meus amigos suíços, acabamos de ter uma reunião introdutória de dois dias com a SEC (Comissão de Valores Mobiliários) dos EUA. Tudo é confidencial, mas eu disse expressamente a eles que estamos muito próximos da Suíça e eles nos autorizaram a compartilhar as discussões da reunião com vocês”.
Na sequência, Dallagnol resume a reunião: “Proteção às testemunhas de cooperação: eles protegerão nossos cooperadores contra penalidades civis ou restituições; Penalidades relativas à Petrobrás. O pano de fundo: O DOJ e a SEC aplicarão uma penalidade enorme à Petrobrás, e a Petrobrás cooperou totalmente com eles. Eles não precisariam de nossa cooperação, mas isso pode facilitar as coisas e, se cooperarmos, entendemos que não causaremos nenhum dano e poderemos trazer algum benefício para a sociedade brasileira, que foi a parte mais prejudicada (e não os investidores dos EUA). Como estávamos preocupados com uma penalidade enorme para a Petrobrás, muito maior do que tudo o que recuperamos no Brasil, e preocupados com o fato de que isso poderia prejudicar a imagem de nossa investigação e a saúde financeira da Petrobrás, pensamos em uma solução possível, mesmo que não seja simples. Eles disseram que se a Petrobrás pagar algo ao governo brasileiro em um acordo, eles creditariam isso para diminuir sua penalidade, e que o valor poderia ser algo como 50% do valor do dinheiro pago nos EUA”