Quando um chocolate é puro e ainda vem da prática do comércio justo
São quatro mil barras de chocolate por mês, 500 de nibs de cacau e um crescimento anual de 100%. Os números, pra lá de positivos, são de uma empresa que nasceu em uma incubadora do Instituto Federal do Amazonas (Ifam) e segue nela, dando frutos em uma cadeia de negócio justo e sustentável, a Na’Kau.
Pequena, se comparada ao tamanho do seu impacto na cadeia produtiva, a Na’Kau é uma empresa amazonense, concebida e criada pelo biólogo Artur Coimbra e hoje tocada por ele e o sócio Leandro Silva, que também desenha e cria as embalagens dos chocolates. Isso porque a empresa afirma valorizar produtores, vender chocolate com 100% de pureza e evidenciar a importância da conservação da floresta amazônica e seus povos.
A começar pela origem, segundo eles. Ao todo, oito produtores de cinco municípios do Amazonas fornecem cacau – a matéria-prima do chocolate – para a empresa. Sem atravessadores, eles recebem entre R$ 12 e R$ 13 por saca da fruta, bem diferente dos R$ 5 que os atravessadores pagam na atualidade.
O cacau vem de cultivos familiares em Borba, Manicoré, Nova Olinda do Norte e Novo Aripuanã. E a história de cada produtor está estampada na capa das embalagens e contada em detalhes num folheto que acompanha a barra de Na’Kau. Dentro das embalagens, todas em papel reciclado, com elementos do traçado indígena e informações sobre as propriedades do chocolate, ainda tem ilustrações que mostram o percurso do fruto e a linha de produção.
“A ideia é valorizar toda a cadeia produtiva, porque isso é valorizar o que o Amazonas tem de melhor: as pessoas e sua floresta e fauna. O chocolate Na’Kau não é apenas um chocolate, é 100% cacau e tem muito valor agregado”, explica Leandro.
Quem adentra a fábrica, dentro de quatro salas do Ifam, nem acredita que tanta qualidade e cuidado sai dali. Três funcionárias, em turnos de oito horas, produzem tudo o que a Na’Kau vende. Num processo cuidadoso, preciso, as sementes do cacau são torradas, descascadas e trituradas, depois processadas por sete a oito dias, 24 horas por dia, e armazenadas em forma de barras. Tudo isso utilizando a mão-de-obra dessas mulheres e máquinas eficazes.
Depois as barras são quebradas em pedaços e voltam para uma máquina que faz o choque térmico, sob o olhar atento de cada uma delas. “Aqui começamos com o chocolate a 45 graus C, depois baixamos para 29 graus C e subimos de novo para 32,5 graus. Assim temos o chocolate no ponto certo, com baixa acidez”, informa Leandro.
É nessa etapa que o Na’Kau sai em diferentes formas, 54% de cacau e com açúcar orgânico, 72% cacau e cupuaçu, para citar apenas dois dos 17 tipos de chocolates que a empresa comercializa atualmente. O segredo? Bem, o chocolate Na’Kau não leva leite, nem conservantes, nem aromatizantes ou outros adicionais.
Somente cacau e açúcar orgânico. E, no caso dos blends, polpa de cupuaçu sem açúcar, café orgânico do Apuí – também do Amazonas – e pimenta da etnia indígena Baniwa, que é amazonense.
Para este ano, eles planejam seguir crescendo em 100% nas vendas e lançar três novos produtos: o cacau em pó, o chocolate sem açúcar e a manteiga de cacau.
“Estamos em 10 pontos de venda em Manaus e também no Japão e nos Estados Unidos. E este ano queremos lançar mais três produtos e entrar em Portugal e no Chile”, avisa. Todos os pontos de venda – mesmo em outros países – são de pessoas que se interessaram em revender o produto. A Na’Kau não tem ponto de venda próprio, a não ser pelo site www.nakau.com.br.
O sabor?
Bem, o chocolate Na’Kau é para paladares apurados, para quem busca chocolate com sabor de cacau e não adocicado, leitoso ou caramelado. É gourmet e feito sob medida para fornecer os benefícios do cacau à saúde, pois sua pureza traz os antioxidantes do chocolate que tem efeito antienvelhecimento, por exemplo.
Para os menos afeitos ao chocolate amargo, sugiro o 72% cacau com cupuaçu. Suave, bem equilibrado e muito aromático. Para os que amam provar novos sabores, o 72% cacau com pimenta Baniwa é o mais indicado.